Adeus, meus sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

Álvares de Azevedo

sexta-feira, 18 de março de 2011

Depois da Orgia






















O prazer que na orgia hetaíra goza

Produz no meu sensorium de bacante

O efeito de uma túnica brilhane
Cobrindo ampla apostema escrofulosa!


Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa,

O sistema nervoso de um gigante

Para sofrer na minha carne estuante
A dor da força cósmica furiosa.


Apraz-me,enfim, despindo a última alfaia
Que ao comércio dos homens me traz presa,
Livre deste cadeado de peçonha,

Semelhante a um cachorro de atalaia

Às decomposições da Natureza,

Ficar latindo minha dor medonha!

Augusto dos Anjos