Adeus, meus sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

Álvares de Azevedo

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Carta de Lord Byron para Lady Caroline Lamb





Agosto de 1812

Minha queridíssima Caroline. *

  Se lágrimas, as quais você viu e sabe que eu não estou apto a derramar, se a agitação na qual eu me separei de você, agitação esta que você deve ter percebido durante todo nosso nervoso caso de amor, não começou até que o momento de deixá-la se aproximou, se tudo o que eu tenho dito e feito e ainda estou muito pronto a dizer e fazer, não foi suficiente prova que meus reais sentimentos são e devem ser sempre para você, meu amor, eu não tenho nenhuma outra prova para oferecer.
  Deus sabe que eu desejo você feliz e quando eu terminar meu relacionamento com você, ou melhor, quando você tomada de um senso de dever para com seu marido e sua mãe me abandonar, você reconhecerá a verdade daquilo que eu novamente prometo e juro: que nenhuma outra em palavra ou ação jamais tomará o seu lugar em minha afeição, que é e será mais sagrada para você até que eu não seja nada.
Eu nunca soube até aquele momento a loucura de — minha querida e mais amada amiga - eu não posso me expressar — este não é o momento para palavras — mas eu terei um orgulho, um prazer melancólico ao sofrer, o que você mesma pode quase conceber — pois você não me conhece, eu estou quase indo com o coração pesado porque minha presença nesta noite deterá qualquer estória absurda que os acontecimentos de hoje poderiam ter levantado — você pensa agora que eu sou frio, severo e astuto — mesmo outros pensaram assim, mesmo sua mãe pensará — aquela mãe a quem devemos de fato muito sacrifício, mas muito mais de minha parte, do que ela jamais saberá ou possa imaginar.
  "Promessas de não amá-la”. A! Caroline é promessa do passado — mas atribua todas as concessões ao motivo adequado. E nunca pare de sentir tudo o que você já presenciou — e mais do que possa algum dia ser conhecido somente pelo meu próprio coração, talvez pelo seu. Possa Deus proteger, perdoar e abençoar vocês sempre e para todo o sempre.

Seu mais apaixonado
Byron

PS. Estas reprovações que dirigiram você para isto — minha queridíssima Caroline — foram não somente para sua mãe e a bondade de todas as suas relações. Existe qualquer coisa no céu ou na terra que me faria tão feliz como tê-la feito minha há algum tempo atrás? Não menos agora do que então. Mas mais do que sempre neste momento você sabe que eu com prazer desistiríamos de tudo aqui e tudo além do túmulo por você — e abstendo-me disto — devem meus motivos ser mal-entendidos?
  Não me importo quem sabe disto e que uso é feito disto — é a você somente que eles devem, eu fui e sou seu livremente e completamente para obedecer, honrar, amar — e voar com você quando, onde e como você mesma poderia e pode determinar.

* Pressionado pela mãe de Caroline- a qual podia ter nutrido afeições por ele- Byron aproveitou a oportunidade para acabar o relacionamento, justificando-se nessa carta.

domingo, 29 de julho de 2012

Como uma pedra


Em uma tarde intrigante

Em um quarto cheio de vazio


De maneira livre eu confesso
Que estava perdido nas páginas.

De um livro cheio de morte


Lendo como morremos sozinhos

E, se fomos bons, nos deitaremos para descansar

Em qualquer lugar que queremos ir.

Em sua casa anseio ficar
Quarto por quarto pacientemente
Vou esperar por você lá, como uma pedra
Vou esperar por você lá, sozinho.

Em meu leito de morte eu vou rezar
Aos deuses do amor e aos anjos
Como um pagão, para qualquer um
Que possa me levar para o paraíso.

Para um lugar do qual me lembro
Eu estive lá há um tempo...
O céu estava ferido, o vinho gotejava
E lá você me conduziu.


Em sua casa anseio ficar
Quarto por quarto pacientemente
Vou esperar por você lá, como uma pedra
Vou esperar por você lá, sozinho, sozinho.


E eu continuei lendo
Até que o dia tivesse terminado
E me senti em remorso
Por todas as coisas que fiz.

Por todas que abençoei
E por todas que errei
Em sonhos até minha morte
Irei vagar.


Em sua casa anseio ficar
Quarto por quarto pacientemente
Vou esperar por você lá, como uma pedra
Vou esperar por você lá, sozinho, sozinho.





Audioslave



Romeo and Juliet

Credea  Romeo che la sua sposa bella
giá morta fosse, e viver piú non volse,
ch'a sé la vita in grebo a lei si tolse
con l'acqua che "del serpe" l'uom appella.

Come conobbe il fiero caso quella, 
al suo signor piangendo si rivolse
e quando puoté sovra quel si dolse, 
chiamando il ciel iniquo ed ogni stella.

Veggendol poi la vita, oimè, finire, 
piú di lui morta, a pena disse:-O Dio, 
dammi ch'io possa il mio signor seguire:


questo sol prego, cerco e sol desio,
ch'ovunque el vada io possa seco gire.-

E ciò dicendo allor di duol morio.

*Epitáfio entalhado sobre a sepultura de Romeu and Juliet.